Conscientia

Fontes da metodologia

O método Conscientia foi criado em um processo que começou na década 1980 a partir de várias fontes de pensadores, cientistas, literatos, militantes e pessoas comuns, sempre testando e desenvolvendo o método na prática. Assim foi consolidado o modo que mais parecia dar resultado concreto. Portanto, a seguir, vamos citar alguns pensamentos e interpretações que nos influenciaram:

Hipócrates (Grécia, cerca de 460-370 a.C.), considerado o pai da medicina, disse que a saúde é a harmonia interior do homem e a harmonia entre ele e seu entorno; ser saudável significa se tornar consciente de seus conflitos e viver sob as leis da natureza. Quase a mesma ideia expressa por François Voltaire (francês, 1694-1778): «A arte da medicina é tranquilizar o paciente, de modo que a natureza possa curar a doença.»

Sócrates (Grécia, cerca de 470-399 a.C.) acreditava que a verdade existe no interior da pessoa. O papel do filósofo é agir como parteiro, ajudando no processo de nascimento do conhecimento (conscientização) através de um diálogo com perguntas. Para Sócrates uma questão básica de vida é “Conhece a ti mesmo.”

Fiódor Dostoiévski (Rússia, 1821-1881) escreve que a ação do homem justificada é muito mais complicada e ambígua do que podemos compreender. Os seres humanos têm a capacidade de alimentar sua alma com os mais altos ideais e as intenções mais pervertidas – simultaneamente, e acreditando em suas boas intenções. Ele também escreveu que sem um coração puro, não existe uma consciência perfeita.
Sabemos muito sem notarmos isso (intelectualmente), apenas pelo sentimento. A verdade não vem de fora para dentro de nós, mas de dentro de nós mesmos, acredite nisso.

Anton Makarenko (1888-1939), o pedagogo russo inspirado por Maxim Gorki (russo, 1868-1936) desenvolveu uma linha de educação e pedagogia própria. Ele enfatiza que é prejudicial para uma criança viver e se acomodar em uma vida ociosa e sem propósitos. Fundou colônias para jovens criminosos com os princípios de cura baseados no afeto, respeito, regras claras, cooperação e democracia. O professor russo deu voz a infância, levando em conta o sentimento dos adolescentes, que tinham também o direito de opinar e discutir sobre suas necessidades.

Aristóteles (Grécia, 384-322 a.C.) descreveu Deus como ato puro, isto é, infinitamente intensa ação (criação) em bondade, verdade e beleza. Agostinho (Império Romano, 354-430) considerou que o mal é a ausência de Deus. O mal não tem existência por si só. No método Conscientia, um dos panos de fundo é O mal pode ser curado somente com o bem. O mal não pode ser curado por outro mal. O amor é o sentimento básico da vida.  Podemos assim fazer um paralelo entre Deus e o amor, e assim como Sigmund Freud diz: “A psicanálise é, em essência uma cura pelo amor”.

Segundo Platão (Grécia, cerca de 428-348 a.C.) não podemos confiar em nossas mentes, mas podemos confiar no que a razão nos diz, já que a razão é a mesma para todas as pessoas. Ele teve a percepção de que os seres humanos têm contato com a verdade universal por algum tipo de senso ético, que ele chama de razão.

Sören Kierkegaard (Dinamarca, 1813-1855), assim como Karl Jaspers (alemão, 1883-1969) diziam que a existência humana é definida por algo que ultrapassa a vida finita, concreta. Os seres humanos relacionam-se consigo mesmos através do relacionamento com o corpo transcendental (metafísico). O existencialismo acredita que o homem é livre para escolher, ele é responsável por suas escolhas e sente o impacto em diferentes níveis. A mente ética, consciência, existe para nos fazer ver nossas intenções e escolhas erradas (como Sócrates e Platão diziam). Todas as escolhas têm o objetivo no metafísico, isto é, além da existência material, da vida após a morte. A essência existe por si só, a existência é uma deturpação, uma consequência das escolhas humanas.

"Os problemas que existem no mundo não podem ser resolvidos a partir dos modos de raciocínio que lhes deram origem ."

Albert Einstein

A Logoterapia (ou análise de existência) visa, de acordo com seu fundador, Viktor Frankl (Áustria, 1905-1997), essencialmente a responsabilidade. Em seu livro Deus e a inconsciência – psicoterapia e religião, ele escreve que a existência é uma vida com responsabilidades. Em psicanálise é claro os aspectos operacionais para se tornar consciente – na análise existencial é o espiritual que se torna consciente. Na última, se trata a duração humana como algo que não é determinado por instintos, mas como algo responsável, justamente sobre a existência – espiritual. A religiosidade inconsciente significaria que procuramos sempre, inconscientemente, Deus, portanto, que já temos um relacionamento inconsciente com Deus. Contrariamente a isto escreve Sigmund Freud (Áustria, 1856-1936): «A religião é a neurose forçada humana em geral.»
A questão na neurose forçada (precisão meticulosa com sua consciência hipersensível) é que a pessoa quer ir acima de sua capacidade como criatura. Quanto mais ampla é uma ideia, mais difícil é entende-la. A ideia infinita não é possível ser entendida por um ser finito.

Aqui termina a ciência e a sabedoria da palavra, como Blaise Pascal (França, 1623-1662) disse: «O coração tem suas razões que a razão nunca entenderá.» Cada situação é um chamado que nós temos de escutar e obedecer. Mesmo em uma situação sem esperança, as pessoas encontram significado.

Emmanuel Swedenborg (Suécia, 1688-1772): o amor e a sabedoria não valem nada se não forem traduzidas em ação. São apenas fantasias e não se tornam reais até terem um proveito. Um pequeno incêndio se apaga com uma tempestade, enquanto um grande incêndio aumenta com a mesma. Assim, enfraquece uma fraca fé diante às dificuldades e catástrofes, enquanto uma forte fé é fortalecida por elas.

De acordo com Albert Einstein (Alemanha, 1879-1955) o objetivo da escola é, além de despertar talentos inatos e curiosidade no indivíduo, desenvolver o senso de responsabilidade para com outras pessoas. Ele criticou a escola que ao invés disso glorifica e cria no indivíduo a mentalidade competitiva, assim como a sociedade de modo geral que vivemos. O homem deve ser avaliado de acordo com o que ele é capaz de dar ao invés do que é capaz de prover a si mesmo.

Na sociedade capitalista, o ser humano e a natureza são submetidos ao domínio dos donos do capital, em um sistema de competição e consumismo sem limites; somos também induzidos para reproduzir do capitalismo as práticas de relações de poder entre nós mesmos.

Einstein ainda coloca que há um mal pior de todos no sistema de educação atual, é o fato de ser usado métodos de medo, força e autoridade artificial nas escolas, afetando a felicidade, a ética o social e especialmente o psicológico. Tira o sentimento de autoconfiança do educando e produz um sujeito submisso. Ao colocar os meios que considerava ideias para educação enfatiza a alegria. Dizia que a tarefa do professor era a de despertar a alegria de trabalhar e conhecer, sendo essa um motor para a criatividade, assim podendo ter fins que atinjam um bem comum à coletividade. A motivação mais importante é o prazer no trabalho, prazer com os resultados obtidos e o conhecimento do valor desses resultados para a comunidade.

O educador brasileiro constatou que todas as pessoas oprimidas se tornam opressoras. Quando aceitamos ser oprimidos psicologicamente, oprimo-nos a nós mesmos e como consequência tendemos oprimir os outros. Este pensamento faz paralelo como outro pano de fundo para o método, que nomeamos de vítima interna: Aquilo que faço para o outro, faço dentro de mim, comigo mesmo. O meu modo de sentir conduz meu modo de pensar e agir. Quando faço bem/mal para o outro, estou fazendo bem/mal para mim mesmo no meu modo de sentir e pensar.

Erich Fromm (Alemanha, 1900-1980) procurava integrar a crítica da sociedade de Karl Marx (Alemanha, 1818-1883) com a psicanálise de Sigmund Freud em um misticismo ateu. No fundo, tanto no comunismo autoritário como no capitalismo denominado livre executado por uma classe burocrática de políticos profissionais e donos do capital, ambos têm percepções materialistas. Fromm afirma ser preciso descentralizar o trabalho e o órgão estadual para lhes atribuir proporções humanas. No plano econômico precisamos de uma cogestão de todos que trabalham em uma empresa, permitindo sua participação ativa e responsável. A exploração do homem pelo homem deve ser revogada e a economia deve se tornar um agente do desenvolvimento humano. O capital servirá ao trabalho e as coisas têm que servir a vida.

De acordo com o psicanalista Norberto Keppe (Brasil 1927-) o mal é a consequência da negação do bem. O mal não existe por si só, mas precisa do bem para existir. Keppe cunhou alguns conceitos práticos para descrever como o ser humano distorce e nega a realidade, tais como censura, megalomania e perfeccionismo (teomania), inveja e inversão. Keppe escreve:
«Se um homem reconhece ter ou ser algo valioso, ele sente o dever de cuidar e progredir isto.»

Ele continua dizendo que o grande problema do homem não é falta de autoconhecimento, mas seu esforço para evitá-lo. Como o homem na sua essência é bom, ele só vai se sentir realizado se fizer o bem.

A Escola de Enfermagem em Halland, Suécia escreve em sua introdução «O ser humano é bom por natureza, honesto e criativo.”

“Temos total liberdade de sentir e pensar, e liberdade limitada de agir.”

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